Nunca ninguém me explicou o que estamos a fazer quando “não estamos a fazer”. O mundo vibrou sempre ao meu redor de forma a reforçar que “parar é morrer” e que é preciso continuar a criar, a trabalhar, a viver em esforço para sobreviver. A culpa não é do mundo, fui eu que atraí para mim este padrão e permiti que ele vibrasse aqui dentro.
Sabia que quando havia sangue e suor havia lucro e louros! Mas nunca soube reconhecer as virtudes de parar, sem morrer.
Durante muitos anos o tarot ou a astrologia dizia-me ao ouvido “precisas abrandar, aprender a serenar”, mas era complicado compreender os benefícios. Treinei a meditação e as práticas de viver mais o presente, mas durante um tempo foram apenas a desculpa de que já estaria alinhado, sem realmente entender o que estava a acontecer dentro de mim.
Conto esta breve história porque acredito que não estou sozinho nesta descoberta, a sociedade ainda continua a premiar os que derramam sangue e suor pelas causas, sem explicar que há muito a ganhar quando paramos. Quando foi a última vez que paraste para apenas existir?
Ainda hoje, mesmo com uma consciência diferente de mim, compreendo que quando estou calmo e relaxado tenho a tendência para pensar no trabalho, é um escape que sabe bem, uma falsa segurança de não estar a desperdiçar tempo. Com o passar dos anos descobri que ganhamos tempo quando perdemos tempo a olhar para algo. Quem disse que “perco tempo” quando descanso? Ganho tanto em descansar! Mas é um ganho subtil, a longo prazo, menos fácil de mensurar na prática e por isso torna-se um ganho mais abstrato. Todos sabemos que o abstrato poucas vezes ganhou a batalha contra o concreto.
Precisamos de reaprender a parar. No tempo “perdido” é onde podemos encontrar o sentido das nossas pontas soltas. Precisamos desse silêncio para trazer consciência à rapidez do quotidiano. Só quando paramos é que é possível dar um passo atrás dos desafios e repensar soluções. A audácia não é ganha no impulso e na rapidez, a audácia ganha-se na segurança interna que permite uma velocidade controlada e estável no futuro.
Nada disto é algo que se ensine de forma fácil, pois temos muitos anos e gerações de rapidez e produtividade sobre nós. Mas é possível reverter esta situação e começar a gerar um pensamento diferente. Aos poucos, temos sido empurrados a viver e experimentar esta forma de estar, seja por existirem mais pessoas que servem como referência, pandemias que nos colocam limites ou ainda o facto de existir um crescendo de terapeutas e terapias no nosso dia-a-dia. Estamos a ser empurrados a silenciar e acalmar.
Quando falamos em meditação e em viver o presente, ainda falamos como sendo algo pontual no meio de um dia corrido. Na realidade é o dia corrido que devia absorver mais uma postura calma, a um ritmo natural e individual, assim como uma rotina de bem-estar em vez de uma rotina de esforço.
Permite-te parar e sentir apenas. Permite que o momento de bem-estar seja valorizado e não seja apenas uma forma de escapismo.
Respira apenas, descansa apenas, existe apenas.
Lindo!!! De mais! Amei.. obrigada por esta partilha, tão bem expressada toda esta dinâmica e necessidade para o nosso bem-estar e criação no longo prazo 🥰🤗❤
Que lindo, Marta. Obrigado pelo carinho! Foi mesmo de coração, depois de “purgar” uma série de coisas durante o dia, a escrita foi a destilação final. hehe
“Precisamos desse silêncio para trazer consciência à rapidez do quotidiano”. É isto. Foi na mouche este texto (que só li hoje mas bem a tempo). Abraços.
Sempre a tempo de ler e reler sobre tema! 🙂