Curar a energia de culpa

Curar a energia de culpa

Decidi começar a trabalhar alguns textos sobre processos que surgem em terapia. Mesmo que de forma anónima, estes são processos que surgem repetidamente e muitas vezes estamos isolados, a viver a sua cura a pensar que estamos sozinhos. Quando ouvimos, neste caso lemos, processos semelhantes, acabamos por suavizar a questão pois é possível analisar diferentes abordagem.

A culpa não nasce sozinha.

Os processos de culpa podem ser mais ou menos complexos que existe sempre um “subtítulo”. Culpa de fazer sempre mal, culpa de nunca fazer nada, culpa de não ser útil, culpa de tentar ser sempre demasiado útil aos outros e não ser para si. A lista pode ser vasta e é necessário mergulhar mais fundo no processo de culpabilização.

Grande parte das vezes os pacientes chegam com uma promessa pessoal realizada. Quantas vezes prometemos a nós mesmos algo? Que serei o melhor ou que farei mais por alguém. Mas regra “quase geral” estas promessas são realizadas em momentos de maior tensão ou conflito. Prometer algo num momento tão complicado, terá sempre associado uma energia de escassez. Assim, conseguimos já chegar à conclusão que, habitualmente, a culpa vem de um lugar de escassez e falta, motivando um movimento excessivo de compensação de algo.

Eu acredito que há sempre coisas positivas nos movimentos conotados como “negativos”, consigo entender facilmente, que a culpa de ser útil à sociedade, pode levar-me a ter uma exigência desmedida em realizar trabalho social. Este trabalho social pode ser altamente benéfico para o mundo e para uma série de pessoas, mas o problema dos processos de escassez é que são como um buraco negro, que quando não é sanado nos suga constantemente. Quantas vezes eu prometo a mim mesmo “ser o maior apoio para a minha família” e vou criando ciclos cada vez mais complexos de exigência, esgotando-me e anulando-me para atingir uma meta que teima em fugir de mim.

E valorização, podemos falar nela em processos de culpa?

Pois é, o valor pessoal ou o valor associado ao que realizamos anda de mão dada com a culpa. Se eu não conseguir valorizar as minhas próprias ações, sem validação externa, posso iniciar um processo de culpabilização. Esta é uma das chaves para quebrar o ciclo de culpa, aceitando que dou sempre o meu melhor e que a mais não sou obrigado. Muitas vezes, a culpa chega em relação aos outros, que podem ser pessoas conhecida ou simplesmente dirigido à sociedade/comunidade em que vivemos, porque nasce no colo da escassez de valorização pessoal e por isso é necessário compensar, fazer mais para os outros ou pelos outros.

Como vivemos sem culpa?

Viver sem culpa não é simplesmente virar as costas aos assuntos ou pessoas. Viver sem culpa é olhar o ponto onde começou, observar a origem e sanar dizendo o real valor que tens! Temos, dentro de nós, a capacidade de perdoar o passado e abençoar o futuro. É tão importante sabermos dizer que demos o nosso melhor naquele momento passado, sem guardar medos ou rancores.

Liberta a exigência criada e policiada por ti, para que o momento presente seja vivido apenas por aquilo que está a fluir.

Da mesma forma como podemos ser castradores, podemos também tornar as nossas ações mais livres em si mesmas. Aceita que as tuas ações têm o valor ideal no momento ideal, sem “mas” ou planos B. O perdão, a confiança e a valorização são pontos chave que poderás trabalhar para dissipar este processo de culpa.

Viver pode ser uma passagem tão simples e bonita.

Universo consequencial

Universo consequencial

Tantas vezes todos já pensámos “porquê comigo?“. Não quero, nem devo, entrar em todas as variáveis possíveis de formas de criar “dívidas kármicas”, mas há algo que tem cruzado o meu pensamento e que sinto que devo partilhar.

O universo é consequencial, tudo à nossa volta são sequências infinitas (à nossa compreensão) para que tudo funcione. Basta começar no nosso próprio nascimento, começando por um ser unicelular que vai crescendo, ganhando mais células, gerando novas funções e habilidades, órgãos, sentidos e por “fim” é criado todo o ser. Nada disto seria possível se algo falhasse no caminho.

Da mesma forma, todos os nossos pequenos actos, até os mais insignificantes, são valiosos para o bom funcionamento do universo. Esta grande malha de acontecimentos em sequência está para lá do nosso entendimento e consciência, é algo extremamente elaborado, nem nos cabe a nós reconhecer todos as suas etapas. Mas se de facto começarmos a viver em consciência do momento presente, saberemos libertar mais facilmente medos, culpas e rancores de todos os processos “menos bons”.

Muitas vezes agradeço a alguns processos pesados pelos quais passei. Não para vangloriar-me em vitima, mas porque sem eles tantas outras coisas boas não teriam acontecido, mas no momento é impossível ter plena consciência dessas coisas boas que estão para vir.

Temos vivido tempos de depuração destas verdades universais. O que antes era “culpa” ou destino dos deuses, agora está a começar a ser entendido para lá de qualquer religião ou divindade. Começamos todos nós a ver que para lá da imagem de um santo, existem padrões que são iguais em mim, em ti, ou qualquer animal ou planta à nossa volta.

Vive este estado de crescimento universal e constante sem amarras. Vive sabendo que tudo pode estar ao teu alcance, ao mesmo tempo que nada será verdadeiramente teu.